Thursday, May 31, 2007

Microsoft Surface - The Power

Enviaram-me este vídeo por mail, ainda não conhecia esta "superfície" da Microsoft e achei fascinante e por isso resolvi postá-lo apesar de não ter nada a ver com este blog.. Mas até que tem, pois parece que é o que o futuro nos reserva a todos!

Wednesday, May 30, 2007

Pequenas ideias para grandes cidades

Só para quem gosta de Urbanismo, Planeamento Urbano e afins!
(entrevista publicada na Folha de S.Paulo, por Raul Juste Lores)
"O filósofo e matemático Antanas Mockus, 55, encontrou-se esta semana com o governador José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), secretários municipais e estaduais, além de líderes de ONGs. A agenda de reuniões do ex-prefeito (por duas vezes) de Bogotá são prova de seu prestígio.
Mockus é considerado o pai da revolução urbana que transformou aquela cidade em exemplo de como fazer muito com pouquíssimo dinheiro. Mesmo com um orçamento que representa um terço de São Paulo, a ainda pobre Bogotá, 8 milhões de habitantes, apresenta inovações em transporte público, educação no trânsito, habitação e cultura. A taxa de homicídios, que era de 80 por 100 mil habitantes em 1993, baixou para 18 no ano passado. Em entrevista à Folha, Mockus falou que os impostos devem ser "redistributivos" e priorizar habitação e transporte público e sugere um "pacto de cidadania" com os motoboys.
FOLHA - O número de homicídios em São Paulo baixou quase tanto quanto Bogotá, mas o número de assaltos, seqüestros relâmpagos e a sensação de insegurança não melhoraram. Como mudar isso?
ANTANAS MOCKUS - Em Fortaleza, vi um estudo que fizeram com os presidiários, dizia que eles gostavam mais de assaltar casas com muros altos. O ladrão teme a transparência, que permite que os vizinhos, a patrulha ou um pedestre possam ver o que acontece se houve uma invasão. A vigilância eletrônica e a vigilância social funcionam mais sem áreas escondidas. Aquele que se fecha cria lugar propício para o crime. A segurança melhorou em Bogotá com mais espaço público, que é sagrado. Discutimos muito para que as ciclovias passassem por dentro de condomínios fechados. Quanto mais ciclista na rua, mais seguro. A noite das mulheres [quando a prefeitura pediu que só mulheres saíssem em uma sexta-feira e que os homens ficassem em casa] foi uma noite muito segura porque sempre teremos espaços mais seguros quando o povo ocupa a cidade à noite. E se são mulheres e crianças, mais ainda, muitos e frágeis são mais dissuasórios que poucos fortões Por razões de segurança, os mais ricos só querem morar em apartamentos, não em casa.
FOLHA - O senhor criou uma "vacinação contra a violência" nos bairros mais violentos. Como funcionou?
MOCKUS - O grau de violência familiar e de mau-trato infantil chegou a um ponto que não dava para empregar uma resposta convencional. Quisemos algo extraordinário, diferente. Decidimos criar uma campanha de vacinação contra a violência. Empregamos centenas de psiquiatras da prefeitura e voluntários que, em um domingo, atenderam em juizados de família, centros de saúde e escolas nas áreas mais violentas. Um psiquiatra recebia cada pessoa em um cubículo. Perguntava qual era o momento em que você foi mais maltratado na vida. Fazia que o paciente enchesse uma bexiga e pintasse nela a cara de quem o maltratou. Depois o psiquiatra sugeria que a pessoa fizesse o que quisesse. Tinha gente que estourava a bexiga, gritava, chorava. Os casos mais graves eram encaminhados à rede municipal de saúde. Cerca de 15 mil pessoas foram atendidas no primeiro domingo, 30 mil no segundo.
FOLHA - Sua primeira campanha de marketing envolveu a educação no trânsito. Por que começou por ali?
MOCKUS - Para valorizar o espaço público, precisamos melhorar o encontro dos desconhecidos. Então comecei a tentar melhorar o convívio entre pedestres e motoristas. Descobrir o porquê da agressividade e o que piorava a lentidão. Começamos pelos mímicos, que atuavam nas principais avenidas, onde muitos motoristas bloqueavam os cruzamentos ou paravam em cima da faixa de segurança. Quatrocentos atores e mímicos interagiram por alguns meses com os motoristas, implorando, chorando ou fazendo cara de bravo aos infratores. Sem falar uma palavra, nem agressividade. Virou uma brincadeira. Quando um motorista parava de forma errada, as pessoas até vaiavam. Se o motorista insistia no erro, o policial aparecia para multar ou advertir o infrator. O policial também saiu mais valorizado. Distribuímos 350 mil cartões vermelhos e 350 mil cartões verdes para que os motoristas interagissem uns com outros, em vez de se xingar, buzinar ou agredir.
*FOLHA - Em São Paulo, os motoboys formam outro elemento que gera confronto no trânsito.
*MOCKUS - Os pedestres atravessam nos lugares indicados graças aos motoboys, senão seriam atropelados. Em Bogotá, os motoristas fechariam os motoboys! Eles são muito grupais, entusiastas de sua perícia, arriscados. Eles andam com mais velocidade que os carros e tempo hoje é ouro. No trânsito, eles são reis. Vi que há solidariedade ali, quando um cai, vários param para ajudar. Sei que há um culto à velocidade, muito risco, muitos acidentes. Por que não se criam duas ou três regras que destacaria os motoboys mais admiráveis e sensatos? Porque não fazer uma homenagem ao motoboy que não quebra espelhinhos, que respeita os colegas, que é bom exemplo? Eu faria um pacto de cidadania com eles.
FOLHA - São Paulo gastou cerca de R$ 200 milhões no ano passado recapeando ruas, e o governo anterior construiu túneis dos Jardins na direção do Morumbi. Ambas ações priorizam o uso do carro em vez do transporte público. Bogotá fez o contrário?
MOCKUS - Nosso rodízio atinge 40% dos carros por dia, quatro números não podem circular durante seis horas por dia. Quando eu era reitor da Universidade, eu ia de bicicleta para a reitoria, chamava atenção que a minha escolta usava carro e eu na bici. Quando prefeito, andei de bicicleta várias vezes. Aos domingos, fechamos as principais avenidas de Bogotá por várias horas e elas se transformam em um grande parque. É um dia de mais exercício físico, as pessoas ficam de melhor humor, a poluição diminui. Investimento prioritário é transporte público. Menos espaço e verbas para o transporte privado de carro, prioridade para faixas exclusivas de ônibus, melhorar as calçadas. Todas as grandes cidades terão que seguir Cingapura e Londres no futuro, e ter um pedágio eletrônico. Usar carro em certas horas é caro, não dá para tirar dinheiro público para fazer as obras caríssimas que demandam o tráfego de carros. Investir em transporte público com esse dinheiro é redistribuir renda.
FOLHA - O senhor aumentou impostos como prefeito. O paulistano reclama que já paga demais. Como fazer?
MOCKUS - Ganhei duas vezes prometendo mais impostos, não menos. Precisávamos enriquecer os cofres da Prefeitura. Vendi 50% da empresa municipal de energia, que precisava de investimentos, e vendi 11% da empresa de telefonia porque é bom que esses pequenos acionistas fiscalizem o desempenho do governo, se há politicagem ou corrupção. Na distribuição da cartela da nossa versão do IPTU, fizemos uma campanha de pagamento voluntário. Quem pudesse, pagaria 10% a mais do total. No talão, colocamos quinze projetos que a Prefeitura estava tocando e pedimos que quem fosse pagar os 10%, fizesse um "x" ao lado do projeto preferido. Mais de 65.000 famílias contribuíram voluntariamente. De US$ 200 milhões de IPTU em 1994 passamos a US$ 750 milhões em 2003. Hoje já passa de US$ 1 bilhão de IPTU. Só conseguimos isso elevando a confiança dos cidadãos na prefeitura. Intervenções nas áreas mais caras da cidade, classe média ou classe alta, eram custeadas pelos moradores, não saíam do orçamento comum. O dinheiro público tem que ser redistributivo. Criei um imposto sobre a gasolina de 25%. Metade do arrecadado vai para o sistema de ônibus, a outra para a manutenção viária, incluídas as calçadas
FOLHA - Para ter essa crença na cidade, é necessário recuperar a auto-estima. Os paulistanos vivem falando que a cidade é um caso perdido. Há receita para se recuperá-la?MOCKUS - Pergunte a um grande industrial se ele mudaria para uma cidade pequena ou se ele continuaria em São Paulo. O que faz São Paulo tão atraente? A prefeitura deveria pesquisar quais são as 10 principais razões para se morar em São Paulo, perguntar ao munícipe o que ele deve à cidade, e conectar as respostas com ações que fortaleçam e potencializem aspectos criativos de amor com a cidade. Os bogotanos tinham pouquíssima auto-estima no início dos anos 90. Quando ninguém respeita as leis, qualquer desconhecido representa um perigo. As relações anônimas melhoram quando há um nível de respeito.
FOLHA - Para suas campanhas educativas de trânsito, violência ou cidadania, o senhor recorreu a mímicos, brincadeiras e até se vestiu de super-homem. Não temia o ridículo?MOCKUS - Não temi ser chamado de ridículo ou populista com meus atos. Decidi arriscar, um risco pedagógico. Há problemas que se resolvem com dinheiro, outros com a aplicação da lei, outros com educação, a maneira mais difícil. Continuo a me sentir um educador, só entrei na política porque sabia que iria ensinar e aprender. Só dá para ser levado a sério se o político se autoaplica o remédio. Cultura cidadã não é acessório, tem que ser o coração da política. Como fazer para arrecadar mais, como gastar melhor, como comunicar minhas decisões, como melhorar a qualidade do espaço público e melhorar a convivência, cada ação tem que ser precedida dessas perguntas. Me cerquei de intelectuais, de acadêmicos da universidade para governar, o melhor em cada cargo. E foi ótimo. Com cronogramas, prazos e objetivos. Se os partidos tradicionais, os políticos, nos colocassem barreiras, obstáculos para governar, todo mundo iria saber.
FOLHA - Então comunicar é tudo?
MOCKUS - Sempre preferi que as questões municipais fossem visualizadas de forma que ninguém pudesse dizer "não entendi". As pessoas deveriam ser sensibilizadas a partir de formas que elas nunca viram antes. Velhos discursos não comoveriam ninguém.
FOLHA - No Brasil, governos só investem em publicidade às vésperas de campanhas eleitorais com fins eleitoreiros. Como o senhor fez tanto marketing?
MOCKUS - Decidimos criar versões interessantes dos problemas da cidade, visuais, simbólicas, gerar uma narrativa que atraísse a atenção da imprensa. Chegou um momento que os jornalistas já nos rondavam, perguntando- se qual seria a novidade da semana. Criei um nível de suspense a fim de enriquecer as mensagens. Como acontece na arte, alguém abre uma porta que permite que vários outros comecem a usar uma nova linguagem. Minha missão era criar matéria-prima que fizesse nossas idéias mais visuais, com apelo. E explicá-las aos jornalistas, com quem sempre tive boa relação. Só se o cidadão entende as razões de um projeto, poderá apoiá-lo. Não deve ficar um único cidadão sem entender a mensagem.
FOLHA - São Paulo está com seus limites ocupados por invasões e conjuntos habitacionais a dezenas de quilômetros das áreas centrais, enquanto muitas destas estão subaproveitadas. Como Bogotá regularizou sua expansão?
MOCKUS - Para fazer conjuntos habitacionais, o governo comprou terras e estipulava um plano diretor. O mercado não faz bom urbanismo. As construtoras então competiam entre si, fazendo apartamentos de 45 m2, subsidiados. Os lotes tinham urbanismo básico, água, luz, calçadas, antes das empreiteiras terminarem os edifícios, de cinco andares ou casas que pudessem ser ampliadas. O ideal é fazer como os parisienses: morar em apartamentos pequeninos, mas ter uma cidade maravilhosa onde conviver. Espaço público é sagrado. Temos que fazer a reforma urbana a tempo, coisa que não soubemos fazer no passado com a reforma agrária. Bogotá ficou densa, parece bem mais densa que São Paulo, isso ajuda nas distâncias, tudo ficou mais perto. Antes, quando um bairro ficava decadente, era abandonado e a cidade continuava a se expandir para o norte. Hoje isso parou e começamos a recuperar o centro expandido. "
Algumas boas ideias mas impraticáveis no Brasil, onde a confiança nos líderes políticos é muito baixa (com razão... é novelas atrás de novelas de corrupção, a última chama-se "Operação Navalha" e mais uma vez o elenco é de luxo!).
Outra grande diferença é que aqui (no caso, Fortaleza) o espaço público é muito menos valorizado e priorizado nas agendas políticas, em comparação com o que eu vejo em Portugal, e face ao privado, que estimula a economia mas precisaria de mais restrições urbanísticas. As construtoras mandam e as "calçadas" e praças públicas esperam há anos obras da Prefeitura...

Tuesday, May 29, 2007

Cartas trocadas entre Vinicius e Chico Buarque (..e ainda a Música Brasileira..)


Cartas trocadas há mais de trinta anos entre Vinicius de Moraes e Chico Buarque que contam um pouco da história de uma das mais belas músicas da MPB, a gloriosa Valsinha. Reparem nos pormenores do "à vontade" dos s 2 amigos :)


DE VINÍCIUS DE MORAES PARA CHICO BUARQUE


Chiquérrimo,


Dei uma apertada linda na sua letra, depois que você partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a você, mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo, me disse que Sérgio [Buarque de Hollanda] morava em Buri, 11, e lá se foi a carta para Buri, 11.
Mas, como você me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se você concorda com as modificações feitas.


Claro que a letra é sua, e eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes, o cara de fora vê melhor essas coisas.Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de “Valsa hippie”, porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que você acha? O pessoal aqui, no princípio, estranhou um pouco, mas depois se amarrou na idéia. Escreva logo, dizendo o que você achou.


Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar

Olhou-a dum jeito mais quente do que comumente costumava olhar

E não falou mal da poesia como mania sua de falar

E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: vamos nos amar…

Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar

E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar

Depois os dois deram-se os braços como a gente antiga costumava dar

E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar…

E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou

E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou

E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais

Que o mundo compreendeu

E o dia amanheceu em paz.



DE CHICO BUARQUE PARA VINÍCIUS DE MORAES


Caro poeta,


Recebi as duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o “Apesar de você”. Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e Gesse, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu.
“Valsa hippie” é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo que há de hippie por aí. “Valsa hippie” ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito. Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que se segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippie”. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou “xingou” mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar.
“Convidou-a pra rodar” eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e a tesão da trepada final. “Pra seu grande espanto”, você tem razão, é melhor que “para seu espanto”. Só que eu esqueci que ia por itens.
Vamos lá:
Apesar do Orestes (vestido de dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar vestido decotado. E para ficar dourado, o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao “ousar” que ela não queria por causa do marido chato e quadrado. Escuta, ô poeta, não leva a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para ver como a turma gosta, e o jeito dela gostar dessa valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
Ainda baseado no argumento acima, prefiro o “abraçar” ao “bailar”. Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe.
A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao “o mundo” em vez de “a gente”. Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último versos onde você diz “e cheios de ternura e graça” em vez de “e foram-se cheios de graça”. Agora, estou pensando em retomar uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer “Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar”. Só tem o probleminha da junção “em-estado”, o “em-e” numa sílaba só. Que é o mesmo problema do “começaram-a”. Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado “começaram a se abraçar” sem maiores danos. Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e responda urgente.
Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando.
Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, por que deu bolo com o “Apesar de você”, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a “Tonga”, mas a “Banda” vendeu mais que o disco do Toquinho solando “Primavera”. Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvana para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.


Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar

Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar

E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar

E nem deixou-a só num canto,

pra seu grande espanto convidou- a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar

Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar

Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar

E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou

E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou

E foram tantos beijos loucos

Tantos gritos roucos como não se ouvia mais

Que o mundo compreendeu

E o dia amanheceu

Em paz.

Sunday, May 27, 2007

Dança #5 - Cª Vatá - Bagaceira a Dança dos Ancestrais

No ano passado, mal cheguei ao Ceará, tive oportunidade de ver esta Dança. Na altura até postei no Água Di Coco sobre. Porque adorei a musicalidade deles, a dança em si e em como isto é tão acessível a qualquer espectador (0,70€!)...
Desta vez, foi a inauguração de um novo teatro que vai receber esta Companhia, a mesma das Pipas que postei lá em baixo.. É porque causa destas coisas que não dá vontade nenhuma de ir embora..

Wednesday, May 23, 2007

....Samba versus Fado... (e ainda o Samba)

O samba está para o Brasil como o Fado está para Portugal.

Ambos retratam muito do que são um e o outro país. Ambos são ícones ou referências como estilos musicais dos respectivos. Muitas vezes poemas cantados são melhores que poemas recitados. Sambas e fados são normalmente lindos poemas que, em jeito de marchinha ou mais melodiosos, conseguem atingir-nos bem lá no fundo.

O Fado, do latim "fatum" (destino) é melancólico, não triste porque ninguém gosta de tristeza. Mas é melancólico e nostálgico. Cantos da alma, alusões a mágoas e amores perdidos, esquecidos, deixados para trás... Saudade, ciúme ou os assuntos rotineiros dos bairros lisboetas. Também há outros que exaltam a Pátria, o passado e os seus tempos aúreos. A guitarra portuguesa tem tanto protagonismo num fado com a grande voz que precisa ter o(a) fadista.
Mas nem todos são tristes. Temos os fados corridinhos, mais animados. Uma espécie de alegria contida dentro de uma certa formalidade. Li algures que os portugueses têm um terrível medo do ridículo e por isso são excessivamente críticos. Dei por mim a pensar como é verdade. Como conheço tanta gente assim e como eu própria sou assim! Somos ainda mais ridículos por não assumirmos os nossos ridículos...
Foi só aqui, longe do meu país e, por isso, mais atenta ao que de bom temos por lá (é preciso fazer auto-propaganda) que passei a ouvir mais fado e a apreciar...

Já o Samba (parece que o nome vem de um ritmo africano chamado semba)... começa com batuque, vai animando, e dali a nada está no pique máximo (então se for um Partido Alto, "bota pra arrombar"!). Existem vários estilos, desde este Partido Alto, ao Pagode, mais fluído, Samba Enredo, Bossa Nova (que eu adoro) e por aí vai.. http://pt.wikipedia.org/wiki/Samba#Samba_comum
É, sem dúdiva, um estilo alegre, ou não fosse o género usado na maior festa do Planeta - o Carnaval do Rio de Janeiro!(em paralelo com o Axé de Salvador)
Mas se repararem, algumas letras também são tristes. Mas cantadas de um jeito como quem está a dar o "passo em frente" ou como aqui se diz "bolar para a frente" ou seguir que "a fila anda". O tom é triste mas o astral é positivo! E formalidade, nenhuma! Descontracção total. Formalidade não combina de todo com o Brasil, isso é facto....
Quanto à tristeza subtil ou não, também não acho que seja negativa, porque a tristeza inspira os mais belos poemas e composições.
Já dizia Vinicius:

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste, não
Põe um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
(Samba da Benção)

Sunday, May 20, 2007

Samba De Uma Nota Só

"Recebo centenas de e-mails com estes textos publicados na Folha Online. E noto que existe pergunta recorrente: como os portugueses olham para o Brasil? Como olham para os brasileiros? E como olham para os imigrantes brasileiros? Perguntas bicudas, Good Lord. Minha vontade instintiva era fugir à questão e responder: exatamente como os brasileiros olham para os portugueses. Piadas, piadas. Não seria justo. Nem verdadeiro. Primeiro, não temos piadas sobre brasileiros. Temos sobre alentejanos. Não é a mesma coisa. Depois, gostamos das piadas que os brasileiros contam sobre os portugueses. Eu, pelo menos, gosto. Existe nelas um fundo de verdade, embora as nossas mulheres, aviso, já não usem bigode. (...) Mas na piada do português existe, acima de tudo, um fundo de afeto. E nos portugueses? Há um afeto que se abre --ou um afeto que se encerra? Eu confesso que não sou exemplo. Com tia paulista que me corrige o tempo todo, sobretudo quando abuso do verbo "gozar" no sentido portuga da coisa, e com amigos que vivem desse lado (saudades, saudades; Vasco, por que não escreves mais vezes?), minha alma está dividida entre duas margens: entre meu país real e minha paixão distante. Mas nem tudo são rosas. Exemplo? O Observatório Europeu dos Fenômenos Racistas e Xenófobos, sediado em Viena, Áustria, divulgou hoje os resultados de um estudo massivo sobre racismo e xenofobia entre os 25 países da União Européia. Resultados trágicos. Metade dos europeus não quer imigrantes por perto. A tabela é liderada pelos gregos (os suecos são os mais tolerantes). E Portugal? Quarto lugar. Seis em dez portugueses olham para os imigrantes com desconfiança. Os resultados são trágicos por dois motivos. Primeiro, porque a Europa está condenada ao fracasso sem imigrantes. Demograficamente, as perspectivas são negras. E com a falência do modelo social vigente, uma população envelhecida será insustentável num futuro próximo. Precisamos urgentemente de transar. Ou de importar gente para trabalhar --e transar.Mas os resultados são também terríveis para os próprios portugueses. Generalizar é matar, claro. Mas sei, sinto e pressinto que existe ainda no meu país uma atitude de desconfiança em relação ao "estrangeiro" que é causa primeira de nossos problemas e fracassos. Talvez 48 anos de fechamento ao exterior expliquem muita coisa. Não justificam tudo. Não justificam nada. Um país como Portugal, que enriqueceu rápido (e enriqueceu mal), tem de estabelecer ligações necessárias com os seus parceiros europeus. Mas, cuidado, nenhuma ligação burocrática pode esquecer a ligação primordial com gente que fala a mesma língua e partilha a mesma história.Nada faria melhor aos portugueses do que um belo banho de tropicalismo. O nosso fado é belo, sim. Mas o nosso fado não basta. Cantado na solidão, o nosso fado é samba de uma nota só. "
(Crónica da Folha São Paulo escrita pelo colunista João Pedro Coutinho, português)

Friday, May 18, 2007

Breve: adoro este sambinha!

Chico Buarque - Quem te viu, quem te vê

Sunday, May 13, 2007

Sabores do Ceará #2


2º Sabor do Ceará, o consagrado caranguejo!

O crustáceo é pretexto para ritual de 5ª feira na cidade, quando o Chico (conhecido pelo Chico do Caranguejo, com a barraca na Praia do Futuro do mesmo nome) recolhe do mar umas centenas (milhares?!..) e as distribui por todos os restaurantes da cidade. Na verdade, ninguém "janta" caranguejo, é apenas um petisco. Mas é preciso técnica para se encarar o bicho, é preciso dar umas marteladas, e saber puxar os fios de carne das suas 10 patas (as únicas que têm realmente carne são as primeiras em forma de pinça), enquanto se bebe uma cervejola e conversa com os amigos. O caranguejo é só um pretexto para sair de casa e ver os amigos. Mas há quem seja viciado!

Comer caranguejo à 5ª... mais uma marca registada do Ceará ;)

Tuesday, May 08, 2007

TERRORISMO POÉTICO

(...ou Síndrome Amélie Poulain)
"Dance de forma bizarra durante a noite inteira nos caixas eletrônicos dos bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Seqüestre alguém e o faça feliz. Escolha alguém ao acaso e o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna – digamos, 5 mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência. Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc. Fique nu para simbolizar algo.
Organize uma greve em sua escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência e beleza espiritual. A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões do metrô e sóbrios monumentos públicos – a arte-TP também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrunds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio piratas. Cimento fresco...
A reação do público ou choque-estético produzido pelo TP tem de ser uma emoção menos tão forte quanto o terror – profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadísta – não importa se o TP é dirigido a apenas uma ou várias pessoas, se é “assinado” ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou. TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Pare que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas da guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez já tenham se tornado conhecidas e previsíveis demais.
Uma primorosa sedução praticada não apenas em busca da satisfação mútua, mas também como um ato consciente de uma vida deliberadamente bela – talvez isso seja o TP em seu alto grau. Os Terroristas-Poéticos comportam-se como um trapaceiro totalmente confiante cujo objetivo não é dinheiro, mas transformação. Não faça TP Para outros artistas, faça-o para aquelas pessoas que não perceberão (pelo menos não imediatamente) que aquilo que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite politicagem, não argumente, não seja sentimental. Seja brutal, assuma riscos, vandalize apenas o que deve ser destruído, faça algo de que as crianças se lembrarão por toda a vida – mas não seja espontâneo a menos que a musa do TP tenha se apossado de você.
Vista-se de forma intencional. Deixe um nome falso. Torne-se uma lenda. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte."
Hakim Bey
(adorei! hum, por onde hei-de começar?..)

Monday, May 07, 2007

Mãe, depois desta.. não morro nunca!

Este foi o fim de semana mais radical da minha vida!!!
Fiz rapel de um prédio abandonado de 4 andares no Sábado e depois de 23 (!!) ontem..mas sobretudo porque eu tinha verdadeiro PÂNICO de alturas! Acho que desta vez me superei!!
(Só de olhar para as fotos, fico a tremer e ainda não acredito que sou eu ali... :D)

O 1º alvo!

O 2º alvo....6 vezes pior!!!

A minha aliciadora, Luize. Outra engenheira doidinha como eu....