Wednesday, May 23, 2007

....Samba versus Fado... (e ainda o Samba)

O samba está para o Brasil como o Fado está para Portugal.

Ambos retratam muito do que são um e o outro país. Ambos são ícones ou referências como estilos musicais dos respectivos. Muitas vezes poemas cantados são melhores que poemas recitados. Sambas e fados são normalmente lindos poemas que, em jeito de marchinha ou mais melodiosos, conseguem atingir-nos bem lá no fundo.

O Fado, do latim "fatum" (destino) é melancólico, não triste porque ninguém gosta de tristeza. Mas é melancólico e nostálgico. Cantos da alma, alusões a mágoas e amores perdidos, esquecidos, deixados para trás... Saudade, ciúme ou os assuntos rotineiros dos bairros lisboetas. Também há outros que exaltam a Pátria, o passado e os seus tempos aúreos. A guitarra portuguesa tem tanto protagonismo num fado com a grande voz que precisa ter o(a) fadista.
Mas nem todos são tristes. Temos os fados corridinhos, mais animados. Uma espécie de alegria contida dentro de uma certa formalidade. Li algures que os portugueses têm um terrível medo do ridículo e por isso são excessivamente críticos. Dei por mim a pensar como é verdade. Como conheço tanta gente assim e como eu própria sou assim! Somos ainda mais ridículos por não assumirmos os nossos ridículos...
Foi só aqui, longe do meu país e, por isso, mais atenta ao que de bom temos por lá (é preciso fazer auto-propaganda) que passei a ouvir mais fado e a apreciar...

Já o Samba (parece que o nome vem de um ritmo africano chamado semba)... começa com batuque, vai animando, e dali a nada está no pique máximo (então se for um Partido Alto, "bota pra arrombar"!). Existem vários estilos, desde este Partido Alto, ao Pagode, mais fluído, Samba Enredo, Bossa Nova (que eu adoro) e por aí vai.. http://pt.wikipedia.org/wiki/Samba#Samba_comum
É, sem dúdiva, um estilo alegre, ou não fosse o género usado na maior festa do Planeta - o Carnaval do Rio de Janeiro!(em paralelo com o Axé de Salvador)
Mas se repararem, algumas letras também são tristes. Mas cantadas de um jeito como quem está a dar o "passo em frente" ou como aqui se diz "bolar para a frente" ou seguir que "a fila anda". O tom é triste mas o astral é positivo! E formalidade, nenhuma! Descontracção total. Formalidade não combina de todo com o Brasil, isso é facto....
Quanto à tristeza subtil ou não, também não acho que seja negativa, porque a tristeza inspira os mais belos poemas e composições.
Já dizia Vinicius:

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste, não
Põe um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
(Samba da Benção)

3 Comments:

Blogger Taupter said...

Sempre que lembro do fado, de nossa herança genética e gosto semelhante por catástrofes existenciais, não posso deixar de traçar um paralelo entre o fado (proto-música-de-corno) e o samba (música-de-corno-ixxxpiérto). Em meio a meus devaneios alucinados provocados pelos 10% de metanol contido no peso molecular do aspartame que adoça Coca-Cola Light, surgiu a visão de Amália Rodrigues e seu pandeiro com Zeca Pagodinho e seu bandolim envolvidos em um embrólio músico-afetivo que seguiu mais ou menos o seguinte:

Amália:
Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Nao me fales só de amor
Fala-me também do fado

Zeca:
Iaiá, ô Iaiá
Minha preta não sabe o que eu sei
O que vi nos lugares onde andei
Quando eu contar, Iaiá, você vai se pasmar

Amália:
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado

Zeca:
Vi um tipo diferente
Assaltando a gente que é trabalhador
Morando num morro muito perigoso
Um tal de Caveira comanda o vapor

Amália:
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras

Zeca:
Quando vi o salário que o pobre operário sustenta a família
Fiquei assustado, Iaiá, minha filha
Montei num cavalo e voltei pra você, ô Iaiá

Amália:
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Zeca:
Brincadeira tem hora
Brincadeira tem hora

Amália:
E o fado é o meu castigo
Só nasceu pr'a me perder
O fado é tudo o que digo
Mais o que eu não sei dizer.

Zeca:
Amor é coisa que nasce dentro da gente
Quem não tem, vive doente
Perdido nos descaminhos

Ambos:
É uma casa portuguesa com certeza
É com certeza uma casa portuguesa

11:58 AM  
Anonymous Anonymous said...

tu vens pra ca mais brazuca que outra coisa! tento na lingua menina! ponho-te pimenta se sair expressão daí.

;)

12:22 PM  
Blogger ÁguaDiCoco said...

Ora aí está uma imagem caricata: a Amália a tocar pandeiro e o Zeca P. a tocar guitarra portuguesa...
Muito original o teu comentário taupter :) Mas musica "corno"..?? :/
Claudette maria, "oube lá", por mais que a gente se esforce, a essência não muda...a tua amiga continua a mesma de sempre (fantástica, linda, poderosa, etc..tu sabes :D)

10:40 PM  

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